Por que as agências de mídias sociais não olham para a Podosfera?

As agências de publicidade em mídias sociais estão pipocando pela internet, trabalhando com as chamadas “novas mídias” como blogs e sites de relacionamentos. Mas alguém que faz podcast aqui no Brasil em algum momento já recebeu alguma proposta de publicidade? Acredito que poucos.

Os motivos pelos quais essas agências fazem pouco caso dos podcasts são vários. Alguns por não gostarem da mídia, outros por falta de oportunidade, mas acredito que boa parte é por falta de conhecimento na área, principalmente por não terem o hábito de ouvir podcasts!

Macari, Bia Kunze e Alexandre Sena durante o encontro nacional de podcasters 2007
Ricardo Macari, Bia Kunze e Alexandre Sena no Encontro Nacional de Podcasters 2007 - Podosfera se mobilizando

Por isso, resolvi fazer uma lista de alguns bons motivos para as agências de publicidade pensarem em podcasts com mais carinho.

1- A grande maioria dos podcasts são de nicho, ou seja, se o produto anunciado for da área do podcast ou do episódio abordado, as chances de sucesso de divulgação entre os ouvintes são bem grandes (vide episódio sobre serial killers do Nerdcast e o anúncio da 2a temporada de Dexter).

Baixando todos os episódios
Quem gosta sempre acaba ouvindo os episódios mais antigos

2- Diferentemente dos blogs, onde raramente um novo leitor lê os textos mais antigos, boa parte dos novos ouvintes de um podcast sempre ouvem TODOS os episódios anteriores, independente se o podcast tem 10, 50 ou 100 episódios. No meu caso, os únicos blogs que eu li vários textos antigos são o Blosque e o Blog da Garota sem Fio. Já com podcasts, eu posso citar que ouvi todos do Pod sem Fio, Elas Pod, Papotech, Nerdcast e Digital Paper. Também já ouvi vários episódios antigos do Alexandre Sena, Código Livre, Escriba Cafe, Monacast, Rapadura Cast, Guanabara.info, Braincast e do Sérgio Vieira (Impressões Digitais). Simplesmente porque gostei do último episódio e acabei ouvindo os episódios mais antigos, principalmente os “atemporais”. Com isso, a publicidade acaba duranto muito mais tempo.

A fotografa Claudia Regina acaba de lançar seu podcast
A fotografa Claudia Regina acaba de lançar seu podcast

3- A cada dia surgem novos podcasts com especialistas de sua área, como o Click – Podcast sobre fotografia da ótima fotógrafa Claudia Regina. Essas pessoas normalmente já possuem grande credibilidade, tanto na blogosfera quanto em outras mídias sociais. Também a cada dia surge ótimos sites de divulgação de podcasts, como o Podpods (ainda em Beta), Teia Cast, PodVotar e o próprio iTunes

4- Assim como na Blogosfera, existe uma grande variedade de audiência na podosfera, desde os mais modestos, com 500 downloads/episódio, até os de sucesso garantido, com média de 10 mil downloads por episódio. Ou seja, provavelmente existem preços para todos os gostos e clientes.

5- A divulgação de marcas funciona muito bem! Se alguém pedir para eu citar 10 serviços de hospedagem, com certeza 2 seriam citados: “a banda de tráfego do Papotech é um patrocinio da Hospedagem Segura” e “Este podcast está hospedado nos servidores da Brasil Hosting. Hospede seu site aqui também. Brasil Hosting é Brasil!” (by Alexandre Sena).

6- A grande maioria dos usuários de internet já desenvolveram uma certa “cegueira por banners”. Isso (ainda) não acontece com os episódios em áudio, mesmo quando o ouvinte está fazendo outras atividades ao mesmo tempo. Além do mais, em uma vinhetinha de 30 segundos dá para passar muita coisa interessante!

Aposto que muita gente passou batido pelo conteúdo do falso banner acima.

Somente 324 posts na fila! Ou seja, marcar tudo como lido!
Somente 324 posts na fila! Ou seja, marcar tudo como lido!

7- Os leitores fiéis normalmente acessam os conteúdos via RSS, ou seja, raramente visualizam propagandas colocadas no site. Como normalmente eles possuem mais textos na fila para ler, uma propaganda ou um post patrocinado pode simplesmente passar batido. Quando um assinante vai ouvir um podcast, ele já está preparado para gastar um tempo X para se dedicar ao áudio, ou seja, raramente ele pula para um próximo episódio.

Mensagens pedindo o retorno do Papotech
Mensagens pedindo o retorno do Papotech, fato bem comum lá...

8- Campanhas como #voltaablogarfugita mostram a influência que o blogueiro tem com seus leitores, mas isso é um caso extremamente raro na blogosfera. Agora, basta um podcast semanal atrasar um dia que uma avalanche de mensagens inundam a caixa postal do podcaster!

9- A quantidade de pessoas que possuem dispositivos que tocam MP3 cresce a cada dia. A tendência natural é que o número de ouvintes também cresça cada vez mais, principalmente nos grandes centros, onde as pessoas perdem muito tempo se deslocando-se de um lugar para outro.

10- Esse texto deve ter sido um porre para ler, mas tenho certeza que se se eu gravasse um bate-papo com algum outro podcaster, o ouvinte teria uma experiência muito melhor!

Bom, espero que com esse manifesto do Infopod, as várias agências de mídias sociais como a Riot, a Polvora, Cubo, LiveAD, etc olhem com carinho o mercado de podcasts! É claro que não vai ser por causa deste texto que as coisas vão mudar, mas tomara que, pelo menos, eles fiquem sabendo que existe uma podosfera Brasileira louca para receber propostas!

o Sergio Vieira também ouve o podcast Decodificando
o Sergio Vieira também ouve o podcast Decodificando

Ps: Um comentário do Sergio Vieira no Twitter resume bem o descaso em relação a podosfera, até mesmo quando o SBT faz um programa inteiro sobre novas mídias:

@macari aposto que não vão falar uma vírgula sobre podcasting…

Dito e feito. Infelizmente…

14 comentários em “Por que as agências de mídias sociais não olham para a Podosfera?

  • 28/10/2008 em 12:24 pm
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    Cara, acho que não é bem por aí não… Vc argumentou muito bem, mas ainda temos que separar o joio do trigo. Assim como a blogosfera está saindo da era do caos e começando a se delinear entre probloggers e hobbybloggers, tenho visto um crescimento exponencial de podcasts, mas a maioria sem identidade alguma (Phodcast, por exemplo). VOCÊ entende muito de podcast, a BIA e o ALEXANDRE tbm, mas vc são uma exceção (exessão, escessão, ex.. ah, enfim!)…

  • 28/10/2008 em 12:44 pm
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    Fala Wallace

    O Podcast é algo que está engatinhando ainda! Os podcasters vão tropeçar muito ainda. Mas em nenhum momento ele não vai tomar o lugar do Blog… O objetivo é somar!

    Vários podcasts existem do mesmo jeito que os “hobbybloggers”, mas também existem podcasts profissionalissimos, e esses sim precisam de apoio financeiro para não acabarem morrendo.

    Eu gosto muito do jeito que o Gizmodo Brasil e a HP fecharam parceria. Um entra com o nome e conteúdo e a HP entra financiando. Dessa parceria surgiu o ótimo http://hp.gizmodo.com.br/ … Esse seria um ótimo jeito de um podcaster sobreviver! :p

  • 28/10/2008 em 7:24 pm
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    Questão de tempo, caríssimo Jonny. Aguarde 😉

  • 28/10/2008 em 8:13 pm
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    Jonny, ao contrátio do que vc escreveu, o texto foi bacaníssimo de ler, desde o título provocativo e que deve trazer reflexão para as agências citadas.

    Realmente o podcast é uma excelente mídia para se anunciar com eficiência. O Jovem Nerd está aí pra provar isso. Depois do Nerdcast sobre serial killers, fiquei pensando pq a NetMovies deixou de anunciar com os caras.

    Acredito q o seu texto vai fazer a galera enxergar com outros olhos os podcasts.

    Abs

  • 28/10/2008 em 9:13 pm
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    Nossa, que honra ser linkada pelo Sr. Jonny Ken!

    No Podcon vai dar pra falar bastante sobre esse assunto… sabe o que eu acho, resumindo bastante? Que o nosso país é atrasado mesmo. Enquanto algo está “bombando” lá fora (como os podcasts) aqui tudo demora pra aparecer mais e ganhar credibilidade. Lá fora já foi percebido faz um tempão que os Podcasts são um ótimo meio de chegar bem perto do “consumidor em potencial”. Já é normal “monetizar” o podcast e isso, no final das contas, é bom para todo mundo.

    Mas o negócio é ter paciência e ir fazendo a nossa parte, né?

    Você acredita que eu ainda estou mostrando o que é podcast para meu pessoal da fotografia?

    Beijocas!

  • 28/10/2008 em 11:00 pm
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    Tudo bem Jonny?

    Vou tentar responder essa pergunta por uma visão lá da ponta da cadeia de consumo de mídia.

    Trabalhava até um mês atrás em uma consultoria de fusões e aquisições que administrava várias indústrias da região sul do país.

    A questão é o feijão com o arroz mesmo. Quem está sentado na cadeira tomadora de decisão – os marqueteiros das empresas bem como o pessoal de planejamento de mídia enferrujado (grande maioria dos profissionais) – não acompanha toda essa revolução que está acontecendo. Se eles não são usuários e pouco conhecem dessa mídia, tendem a não aprovar essa proposta diferenciada.

    Aí, por consequência, vai tudo pro bolo já conhecido e decadente…

    Talvez outro fato é que falte uma organização ou um representante que faça a agregação dos espaços em podcasts para facilitar venda dessa mídia.

    Um representante com influência – tipo aquele que paga “bola” pro comprador da agência, dá vinhos selecionados de presente no dia do aniversário e etc – que junte vários desenvolvedores de conteúdo, venda um espaço e distribua o resultado conforte a pizza de audiência produzida por cada emissor de podcast.

    Creio que 80% dos motivos sejam não técnicos. O primeiro por conservadorismo de quem está na ponta da cadeia e o segundo porque, infelizmente, a venda de produtos de mídia tende a ser muito mais uma venda de relacionamento do que uma técnica e racional…

  • 28/10/2008 em 11:43 pm
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    Os itens 7, 8 e 9 me fizeram lembrar da surpresa que tive com os resultados da Podpesquisa promovida no primeiro semestre deste ano, que apontavam que o público ouvinte é fiel e se dispõe a dedicar cada vez mais tempo para ouvir podcasts. As agências de publicidade na web estão “moscando” ao não perceber a importância da mídia para fidelização e reforço de marcas.

    (obs.: adorei a “pegadinha” do item 6. Realmente, banners andam passando batido, na maioria das vezes).

  • 29/10/2008 em 2:21 pm
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    Eu poderia fazer a mesma pergunta em relação a blogs de música (puxando a brasa pro meu lado). Vejo muitos publieditoriais, marcas que teriam a ver com o meio irem parar em blogs de ‘diversos’ que passam longe até de entretenimento.

    Os podcasts são relativamente novos pra mim. Estou conhecendo vários e vejo que,assim como blogs, tem alguns que não passam de covers ruins de bons podcasts. Obviamente não falo de nenhum citado.

    Talvez os anunciantes só conheçam o lado negro da força e resolvam apostar em outros meios que, mesmo sendo ‘modernos’ estão se tornando tradicionais.

    Na verdade, parece que há um certo receio por anunciar em nicho de mercado… agora, por que? Realmente não faço idéia.

    Ótimo post e, ao contrário do que escreveste, não foi chato 🙂

  • Pingback: Mídias Tradicionais em tempos de web 2.0, por Inagaki | Blogcitário, o seu blog de publicidade

  • 31/10/2008 em 9:02 am
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    Arrasou na campanha a favor da mídia se interessar pela podsfera. A meu ver, notícias em podcasts com opiniões e relatos de experiências pessoais, são muuuito mais interessantes. Um verdadeiro entretenimento CULTO. =)

  • 31/10/2008 em 11:04 am
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    Eita, passei batido pelo falso banner no meio do post!

    Acho que faz sentido o seu post. O público de um podcast é bem de nicho, então anunciar para ele deve trazer ótimos resultados.

    Alguns blogs, mesmo pequenos, são de nicho e também seriam bons parceiros para campanhas como você diz, de mídias sociais, mesmo com público pequeno.

    Afinal, queremos a cauda longa!

  • 06/11/2008 em 8:50 pm
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    oi Jonny!

    Muito boas as informações que vc reuniu aqui.
    Nós, apesar de não estarmos gravando episódios novos do ELASPOD, não perdemos a esperança de que em breve haja mais apoio aos podcasters. E com isto, muitos de nós possamos dedicar mais tempo a esta atividade tão prazerosa , de divulgação de conteúdo gratuitamente…
    Me sinto muito feliz quando posso contribuir para a comunidade web como um todo, seja doando um pouco de tempo, ensiando, escrevendo… pois sei q pequenas ações de muitos aqui fazem com que a alma da internet nao se perca…

    Abracos
    Alessandra MArfisa

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